Carlos Moreira da Silva: “Fiz muitos erros na Sonae e sobrevivi até ao dia em que quis deixar de estar lá”

Carlos Moreira da Silva, acionista da BA Glass, é o 41.º convidado do podcast E Se Corre Bem? e o primeiro da segunda temporada. Foi Presidente da COTEC Portugal, braço direito de Belmiro de Azevedo e construiu uma das maiores histórias de sucesso empresarial do país. Mas começou por ser, como o próprio admite, um “mau aluno”.
“Eu fui muito mau aluno, porque o meu desporto favorito era o snooker e o futebol. Até que aos 12 anos meteram-me na linha”, recorda. O momento decisivo foi a entrada num colégio interno. “Eu não queria continuar ali e, portanto, passei a ser bom aluno. Não era difícil, mas consegui ser o melhor aluno e, com isso, ganhei o gosto do conhecimento.” Para Carlos Moreira da Silva, esse gosto é “fundamental”, e, além disso, diz que com a idade aprendeu a ser mais flexível. “Em mais novo tinha convicções muito fortes e era pouco flexível. Hoje, não tenho quase verdade nenhuma”, conta.
Na conversa, fala da importância da diversidade, em especial da idade. “A diversidade mais importante é a da idade. Eu costumava dizer, quando era mais miúdo, que pior que a luta de classes era a luta de gerações. Há espaço para todos, mas é preciso que os mais velhos se adaptem às novas tendências”, diz.
Ao longo do episódio, Carlos Moreira da Silva recorda as figuras que o marcaram, como o engenheiro Valente Oliveira, a quem chama “um trabalhador incansável” e “mestre em muitas coisas”. Fala também do início da relação com Belmiro de Azevedo. Foi através do diretor de departamento da faculdade que conheceu Belmiro de Azevedo e apresentou um projeto que viria a estar na origem do primeiro MBA em Portugal. Pouco depois, ainda antes de entrar na Sonae, foi convidado para integrar o conselho da EDP. Belmiro de Azevedo aconselhou-o: “É uma boa oportunidade, vai lá aprender o que é que se passa nos corredores do poder e depois falamos.”
"Nessa altura, tinha convicções fortes de que não havia diferença entre uma empresa pública e uma privada. Acreditava que a diferença estava em ser bem ou mal gerida. Com a EDP percebi que isso não é verdade”
A experiência foi decisiva para a sua visão sobre gestão pública e privada. “Nessa altura, tinha convicções fortes de que não havia diferença entre uma empresa pública e uma privada. Acreditava que a diferença estava em ser bem ou mal gerida. Com a EDP percebi que isso não é verdade. O Estado não sabe ser acionista, porque se mete naquilo onde não se deve meter. Por exemplo, a EDP era a única instituição portuguesa que conseguia endividamento externo, que seria para ajudar o Estado e era pago pelos consumidores de eletricidade. Isto é perverso num sistema tão crítico como é o sistema elétrico”, partilha.
Sobre a Sonae, não tem dúvidas: “A Sonae é uma escola brutal, mas a escola era a pessoa Belmiro de Azevedo”. Ainda assim, acredita que a liderança tem prazo de validade. “Se hoje existisse Belmiro de Azevedo, seria uma má escola. Tenho isto como uma convicção tão forte, que foi por isso que saí do conselho da BA quando tinha 60 e poucos anos, porque o envelhecimento não ajuda. Há um prazo de validade e nós não vemos a nossa decadência. É preciso sair bem e não deixar que esse prazo acabe”, afirma.

Depois de dez anos na Sonae, lançou-se a solo e criou a sua própria empresa. Mas recusa a ideia de ser um herdeiro direto de Belmiro de Azevedo. “Ele tem méritos que eu nunca terei. Herdeiro no sentido de muitos dos valores, sim. Mas não de todos.”
Valoriza a diversidade e a liberdade de pensamento dentro das equipas. “Nós não temos de ter sempre razão. Não podemos é perder, dentro de um coletivo que toma decisões, a liberdade de ter as nossas ideias expostas. Podem ser uma tolice completa, mas é preciso ter a capacidade para o aceitar. Um dos defeitos de se ter um CEO há muito tempo é que a estrutura começa a ficar parecida com o CEO.”
Carlos Moreira da Silva acredita que muitas empresas portuguesas precisam de um “choque de gestão” e defende que a BA se distingue precisamente pela energia coletiva e pela identificação com os valores. Questionado sobre o que lhe falta fazer na vida, responde de forma simples: “Gozá-la. Gosto muito de gozar a vida.”
Este podcast está disponível no Spotify e na Apple Podcasts. Uma iniciativa do ECO, na qual Diogo Agostinho, COO do ECO, procura trazer histórias que inspirem pessoas a arriscar, a terem a coragem de tomar decisões e acreditarem nas suas capacidades. Com o apoio do Doutor Finanças e da Nissan.
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